As pessoas costumam dizer que “o mais difícil é começar”. Por vezes, repeti a frase numa tentativa inútil de que ela se tornasse uma realidade na minha cabeça.
Logo eu, viciada em começos e também em seus respectivos fins. Penso muito em começos, almejo começos e com a mesma intensidade determino seus pontos finais. A partir do momento em que um começo, de fato, começa, ele morre em mim. Perde a graça. Puf, sumiu.
Acumulo começos, vários deles. Meu prazer está na jornada delirante até esse ápice da partida, faço com que o caminho seja o mais longo possível para aproveitar a sensação de euforia antes de chegar ao tal do começo, que é o fim pra mim. Soa até um pouco masoquista falando assim, não é? Talvez seja.
Gosto de passar por todas as etapas, percorrer processos, cavar possibilidades mentalmente; as exigências, os controles, as expectativas. Projetos, planos, objetos, pessoas, todos vêm e todos vão.
Isso não é de hoje nem de ontem, é de uma vida inteira, mas vivo no momento uma grande jornada de autoanálise para entender porque meus pensamentos se fazem mais presentes do que os meus atos. É como se fosse uma necessidade viver apenas da criação contínua, nunca da realização.
Quero tudo, mas não consigo fazer nada. Ansiedade generalizada ou uma análise de Lacan sobre o desejo ser a essência da realidade e a essência da realidade ser justamente a falta?
Seria eu uma platônica crônica? Alguém cuja insatisfação é tão imensa que antecipa a sensação de decepção antes mesmo de ser concreta e vive apenas na fantasia?
Fantasia gera possibilidade e possibilidade é o maior combustível da angústia. Estou aqui, mas posso estar lá. Posso aceitar esse trabalho. Posso pegar aquele ônibus. Posso ir até o mercado. Posso pagar minhas contas. Posso marcar o exame. Posso não marcar o exame. Posso cuidar do meu gato. Posso comprar um livro, talvez dois. Posso fazer tudo o que eu quiser. Posso fazer nada também, se for da minha vontade. Posso viver. Posso morrer.
Angústia, o preço da liberdade. Escolhas. Possibilidades. Inquieta o corpo, custa caro à mente.
A minha dificuldade, de longe, não está em começar, e sim, em continuar. Permanecer. E esse é um assunto que eu poderia escrever mais uma porção de páginas, mas vou parar por aqui, pois afinal: esse é apenas o começo.
A minha última newsletter teve uma vida bastante curta, coitada, vamos ver até quando esta vai durar.
Até logo ou até nunca mais.
Criei a newsletter Sangria Desatada em outubro de 2021. O texto acima foi escrito em 6 de maio de 2022.
Nada mudou. Nem uma única palavra.
Nunca irá mudar.
Obsessões desatadas
✚ Mais um dia fascinada por polvos (é o bichão mesmo)
✚ As edições de vídeo ABSURDAS dessa pessoa
✚ Queria ter 14 anos de novo e estar ouvindo Dookie, do Green Day, no meu discman no chão do pátio do colégio, em especial essa pra hoje
✚ Inclusive: o que tocava no meu discman
✚ Os vídeos da faxina milgrau no youtube (ellen milgrau te amo)
✚ Estou lendo Precisamos falar sobre o Kevin:
Por isso, até mesmo a tragédia pode ser acompanhada por vestígios de alívio. Descobrir que uma amargura é de fato arrasadora nos serve de consolo, reafirma nossa humanidade.
Dricão, obrigada novamente por me fazer me sentir abraçada e representada, sempre tive mt dificuldade em terminar qualquer coisa, mas começar eu amo. Espero que eu esse seja um começo com uma longa jornada ❤️
Espero que até logo! Me identifiquei demais. Sempre procuramos semelhantes, não é? E admiro seu trabalho muito antes de saber que tinha essas similaridades!